26 de setembro de 2010

Entrevista ao Treinador



Porque é que decidiste deixar a arbitragem e voltar a treinar?
Na altura, após uma época de arbitragem como arbitro nacional presenciei e vi coisas que não me agradaram no mundo da arbitragem.
Foi um ano em que apitei desmotivado e senti que não valia a pena continuar num projecto no qual não acreditava nas pessoas que o lideravam.
Decidi então voltar aos bancos, e hoje, após já algum tempo consigo avaliar e dizer que tomei a decisão correcta.

O que mais gostas de treinar, masculino ou feminino?
No fundo, em ambos os casos estou a treinar basket… Estou a treinar atletas… Depois vêm as características de ambos. No feminino assistimos a um grande receio de correr riscos, enquanto no masculino é um problema que não temos.
Acho que o que é realmente importante é estar a treinar… É ter um projecto e um conjunto de atletas capaz de percorrer o “longo” caminho que é uma época desportiva.

O que é mais importante para ti, marcar um cesto ou roubar uma bola? Porque?
As duas são importantes. Se fossem pela ordem contrária seria perfeito… Ou seja, roubar uma bola e a seguir marcar um cesto.
Festejamos cada cesto que marcamos, mas eu em particular também festejo as bolas roubadas… Festejo quando defendemos bem… Vamos ter assim mais possibilidades de marcar mais cestos…

Qual foi o momento que mais te marcou desde que entraste para o mundo do basquetebol?
Felizmente tive vários momentos que me marcaram. O basket é mesmo assim… Há sempre momentos que nos marcam pela positiva e outros pela negativa…
Olhando para trás penso até que foram mais os positivos, porque a paixão que tenho pelo jogo assim o obrigou.
Os momentos que mais me marcaram foram sem duvida as fases finais que joguei.
Aqueles três dias em que tudo pode acontecer! O acordar na 6ªfeira e pensar: “Começa hoje”.
A ânsia do 1º jogo daqueles 3 que nos podem dar o titulo ou outra posição. O chegar ao último jogo e ainda tudo estar por decidir. São apenas três dias, mas que elevam ao máximo a emoção e o prazer de jogar basquetebol.

O que mais admiras na atitude de um jogador de basquetebol?
Admiro precisamente a atitude.
Saindo do mundo do basket e fazendo alusão a outras áreas da vida como o trabalho, ou outras, constatamos que a atitude é tudo. E no basket é essencial. Quando falo em atitude não estou apenas a limitar isto à atitude defensiva… Refiro-me a todo o processo de treino e jogo. Temos de aproveitar ao máximo e a dar o máximo cada segundo que passamos no nosso jogo.
Só assim vamos tirar os melhores frutos.
Não fica de lado o espírito de sacrifício, a humildade nem a personalidade.

Para ti, o que é necessário para ser um jogador de basket?
Tal como na resposta acima englobo várias características. A atitude com tudo que dela advém, o espírito de equipa, a humildade, a capacidade de sacrifício, a compreensão do papel na equipa, a vontade de estar presente nos treinos todos.
 Costumo dizer que não gosto de atletas que vêm ao treino mas sim de atletas que vêm treinar.

Sabemos claramente que a defesa é um factor bastante importante para ti. Qual o outro ponto importante e porquê?
Pela formação que tive, e por compreender e ter sentido na pele todos os benefícios que defender traz, a defesa é sim o factor mais importante para mim, sem descurar os restantes.
Como resposta muito simples podia dizer que o outro factor importante é o ataque… Simples… Jogadoras que defendam bem e ataquem bem…
Seria o ideal… Mas todos sabemos que não é fácil… Portanto tenho que falar da entrega ao jogo… 

Quais as maiores dificuldades que estás a sentir em treinar a nossa equipa?
Treinar uma equipa de juniores têm sempre pontos bons e maus. Eu agarrei e quis este desafio porque me identificava de certo modo com ele.
È um grupo em que há gente que pode dar alguma coisa ao basquetebol, seja de que forma for. È um grupo que necessita de ter atitude de campeãs… E como vos disse, não precisam de ganhar nada para terem essa atitude… Essa vontade, essa raça, essa entrega. Não esqueçamos que a humildade e solidariedade fazem parte da atitude de grandes atletas.
A maior dificuldade que tenho sentido é incutir-vos esse espírito. È tornar-vos guerreiras capazes de enfrentar todos os medos relacionados com a modalidade… Mas ainda agora estamos a começar…

Onde tens medo de falhar?
Penso que quem dá tudo e que pode, e faz tudo o que sabe não pode ter receios. Os receios são para quem não que ir longe… Para quem não quer arriscar… Mas todos queremos arriscar!
Genericamente diria que temos de enfrentar sempre tudo de cabeça erguida… Venha o que vier…

Enquanto jogador quais foram as tuas maiores dificuldades? E como ultrapassas-te?
Ao longo dos anos como jogador houve coisas que foram mudando. Dentro quase sempre do mesmo clube, tive vários companheiros de equipa… Vários treinadores… A maior dificuldade foi quando comecei a ver diminuir o meu tempo de jogo. De repente estava a jogar bastante, como no instante seguinte jogava pouco. Na pele de atleta é sempre difícil compreender.
Mas cabe-nos a nós enquanto atletas, procurar alternativas… Mostrar que somos úteis… Adequar o nosso jogo às necessidades da equipa… E assim consegui ultrapassar essa dificuldade. Não joguei o tempo que quis, mas joguei até quando quis.

Também como treinador as adversidades surgem a qualquer momento… Que tipo de dificuldades já te surgiram e que estratégias utilizas-te para as ultrapassar?
As adversidades são constantes na vida de um treinador.
Atletas desistem, atletas faltam ao treino e já tinhas o treino planeado e tens de mudar à ultima da hora… Quando existem problemas de equipa e o treinador tem de intervir…
Quando as pessoas esperam uma coisa e o treinador não corresponde por qualquer motivo…
A vida de treinador é assim mesmo… Muito contestada, mas também muito gratificante

Nenhum comentário:

Postar um comentário